A relação entre trabalhadores e patrões no Brasil sempre foi marcada por características escravocratas. Uma das profissões que mais demonstram isso é a de empregada doméstica. Em sua maioria, essas trabalhadoras são negras, e até pouco tempo atrás eram tratadas como escravas, não recebiam remuneração, jornada de trabalho absurda, não tinham nenhum direito trabalhista e ainda por cima sofriam, muitas vezes, assédio sexual do seu patrão.
Em tempos de pandemia, é evidente que essas mulheres trabalhadoras, mesmo tendo conquistado varios direitos, estão muito mais expostas aos problemas causados pelo covid- 19. Não é à toa que a primeira idosa morta foi uma empregada doméstica, negra, contaminada pela sua patroa, depois de a mesma ter retornado de uma viagem à Europa.
Muitas dessas trabalhadoras domésticas continuam expostas ao covid-19, pois não foram dispensadas por suas patroas, e têm que continuar a trabalhar. Passados quase 4 séculos de escravidão, a história se repete de forma trágica: uma mulher negra, empregada doméstica, perde seu filho por necessitar deixá-lo por alguns minutos aos cuidados de uma mulher branca, a qual deixou a criança sozinha em um elevador, largando-a à sua própria sorte, o que culminou na morte do filho da sua empregada.
É bastante emblemático que em pleno século 21 uma mãe negra perca o seu filho por uma branca, o que nos remonta ao processo escravocrata quando as mães negras tinham seus filhos arrancados dos seus seios para amamentar as crianças brancas.
A grande diferença é que se no passado isso eral "natural " e até legal, hoje enxergamos como realmente sempre foi, um grande gesto de desprezo pela vida das pessoas negras.
A escravidão como vimos nos livros acabou, mas nos deixou marcas que nos machucam profundamente, a indiferença e a desimportância pelos nossos corpos e nossas vidas.
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